terça-feira, 12 de novembro de 2013

'É momento histórico para as vítimas da ditadura', diz neto de Jango

Exumação de restos mortais do ex-presidente será na quarta, em São Borja.
Familiares estão na cidade para acompanhar trabalho dos peritos.

Márcio Luiz Do G1 RS, em São Borja
Neto Exumação Jango (Foto: Marcio Luiz/G1)João Marcelo está na cidade para acompanhar a exumação do avô (Foto: Marcio Luiz/G1)

Familiares de João Goulart já estão no município de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, para acompanhar a exumação do ex-presidente. Na manhã desta terça-feira (12), João Marcelo Goulart, um dos netos de Jango, afirmou que a análise dos restos mortais do avô trata-se de um "momento histórico" para o país. O processo está marcado para a manhã de quarta-feira (13). O cemitério e o jazigo da família estão isolados.
"É um momento histórico não só para a família de Jango, mas para o país e para todos as famílias de mortos, desaparecidos, torturados e exilados na ditatura militar. É um momento histórico para todas as vítimas da ditadura", disse ao G1 João Marcelo, 24 anos, filho de João Vicente Goulart.

A exumação tem como finalidade esclarecer as causas da morte de Jango durante o exílio na Argentina, em 1976. Segundo a versão oficial, o presidente deposto pelo golpe militar em 1964 foi vítima de um ataque cardíaco, mas existe a suspeita de que ele possa ter sido assassinado por agentes da repressão durante a Operação Condor, como foi batizada a aliança das ditaturas do Cone Sul para espionar, prender e matar opositores dos regimes.

Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado (Foto: Márcio Luiz/G1)Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado
(Foto: Márcio Luiz/G1)
Os restos mortais de Jango serão retirados do jazigo da família Goulart no cemitério Jardim da Paz. Depois, serão levados para análise em Brasília, onde o ex-presidente será recebido com honras de chefe de Estado, segundo informou a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. João Marcelo destacou que esse é um reconhecimento que seu avô não teve direito em vida.

"Isso é muito importante para a nossa família. Depois de 37 anos de sua morte, Jango retorna a Brasília como chefe de Estado, com honras que ele nunca teve. Tudo isso a gente acredita que é necessário para o resgate da memória do país, da democracia", declarou o neto de Jango.

A exumação dos restos mortais do ex-presidente está marcada para começar às 7h desta quinta-feira (13) e não tem hora para acabar. Participam do processo peritos criminalistas da Polícia Federal (PF), duas especialistas argentinas, um uruguaio e um cubano, que participou da exumação do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Ele foi convidado pela família. O resultado da análise não tem data para ser divulgado.

Nesta tarde, devem chegar à São Borja mais familiares de Jango, além da ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entre outras autoridades. Uma audiência pública para explicar à população o processo de exumação do ex-presidente está marcada para as 18h.

Cemitério e jazigo foram isolados
Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)
O cemitério da cidade amanheceu isolado e com segurança reforçada. Peritos chegaram ao local às 10h para preparar a operação. O jazigo da família foi coberto por lonas e cercado por uma estrutura metálica para o trabalho dos peritos. Para a retirada dos restos mortais, na manhã de quarta-feira, haverá três tipos de acesso: um para os peritos, que ficarão em cima do túmulo. O segundo será para os familiares, que poderão acompanhar todo o processo. Autoridades também poderão observar a operação. A imprensa não foi liberada para entrar no cemitério.
"Estamos aqui depois de longos seis meses de trabalho. Ele não se iniciou hoje, mas também não acaba amanhã. Vai demorar um certo tempo porque serão feitas análises em laboratórios e também no exterior", explicou ao G1 Amaury de Souza Júnior, chefe dos peritos que está coordenando a exumação. O perito explica que não há prazo para a conclusão da análise e ressalta que o resultado pode ser inconclusivo.
Os peritos ainda não sabem em que condições estarão os restos mortais e o caixão de Jango. Se estiver em bom estado, a ossada será colocada em uma urna comprada especialmente para a operação. Se houver alguma deterioração, serão usadas caixas menores. Os restos mortais sairão do cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros até o Aeródromo de São Borja.
De lá, os restos mortais seguem em um helicóptero da FAB até a Base Aérea de Santa Maria. Em seguida, o material vai para Brasília, onde é esperado até as 10h de quinta-feira. De acordo com a assessoria da assessoria da presidência, o corpo de Jango será recebido com honras de chefe de Estado. Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso estão entre os convidados para a solenidade.
A força-tarefa para o procedimento de exumação envolve a SDH/PR, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS), o Departamento da Polícia Federal (DPF), além de contar com a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e peritos internacionais da Argentina e Uruguai, sendo que há possibilidade de técnicos cubanos se integrarem aos trabalhos.
A Comissão Nacional da Verdade e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul decidiram exumar o corpo do ex-presidente João Goulart em maio deste ano, a pedido da família, que acredita que ele possa ter sido envenenado. Morto no exílio na Argentina em 1976, o laudo oficial afirma que ele sofreu um ataque cardíaco. Entretanto, há suspeitas de que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Para a família de Jango, ele teria sido assassinato em uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.
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