Documentário reabre discussão sobre a morte de João Goulart
Em Brasília, com a presença da Ministra Maria do Rosário, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, o “Dossiê Jango” será apresentado no dia 01 de julho, às 17 horas, no auditório Tancredo Neves do Ministério da Justiça – com apoio da Comissão de Anistia, Comissão de Mortos e desaparecidos Políticos, e também da Comissão Nacional da Verdade. Nas duas apresentações estarão presentes o diretor do filme, Paulo Henrique Fontenelle, e também o filho de Jango e presidente do Instituto João Goulart, João Vicente Goulart.
REFLEXÃO
O documentário “Dossiê Jango” propõe uma reflexão sobre o período da ditadura militar brasileira a partir de um dos mais controversos fatos políticos da história do país: a morte do ex-presidente João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. Oficialmente, o ex-presidente morreu de infarto durante seu exílio político, quando planejava voltar ao Brasil.
Com argumento de Paulo Mendonça e Roberto Farias, o documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle não se limita a reconstruir esse capítulo da história; ele apresenta novos elementos e testemunhas-chave para reabrir a discussão em torno das circunstâncias da morte de Jango, cuja hipótese de assassinato vem sendo levantada desde a ditadura, mas sem nunca ter sido investigada.
Em clima de thriller, o filme – produzido pelo Canal Brasil – revela documentos do serviço de
inteligência do Uruguai, do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), além de apresentar gravaçōões e depoimentos contundentes. Se sempre houve suspeitas em torno da causa mortis de Jango, o documentário agora junta outras peças desse nefasto quebra-cabeça.
As entrevistas e fatos apresentados reforçam uma certeza: a morte de Jango não foi esclarecida. A produção relembra outras interrogações que assolam a história do Brasil, como as também suspeitas mortes de Juscelino Kubitscheck e Carlos Lacerda, na mesma época e com um curto intervalo.
A história acerca da morte de Jango reúne outras mortes inexplicáveis, entre elas a do médico legista que fez o seu laudo e, mais impressionante, de Enrique Foch Diaz, empresário uruguaio e amigo do ex-presidente. Autor do livro “João Goulart: El Crimen Perfecto”, ele afirmava veementemente que Jango teria sido assassinado. A produção do filme teve acesso a uma gravação inédita, em fita cassete, na qual o uruguaio listava uma série de outras mortes correlacionadas à do ex-presidente brasileiro. Foch morreu, em circunstâncias suspeitas, semanas depois de fazer a gravação.
“Dossiê Jango” surgiu a partir do projeto idealizado por Roberto Farias, um filme de ficção
baseado na história. Roberto seguiu com seu projeto, que está em fase de pré-produção, e em paralelo ele e Paulo Mendonça decidiram realizar também um documentário. O ponto de partida de ambos os filmes foi a versão de Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência do Uruguai, que está preso no Rio Grande do Sul desde 2003. Ele é uma das pessoas que afirmam que João Goulart foi assassinado pela polícia brasileira, com a colaboração dos uruguaios, em um complô do qual diz ter feito parte. Segundo ele, o plano se chamava “Operação Escorpião”.
A versão de Barreiro veio à tona em 2008, quando ele concedeu uma entrevista para a TV
Senado e, logo depois, para o jornal “Folha de São Paulo”. Ele afirma que o delegado do Dops de São Paulo, Sérgio Fleury, deu a ordem para a execução de Jango, com autorização do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996).
O diretor Paulo Henrique Fontenelle, Roberto Farias e Paulo Mendonça estiveram durante dois dias com Barreiro, que detalhou minuciosamente a operação, citou nomes, datas e a sua rotina durante os três anos em que alega ter monitorado Jango. Na entrevista, Barreiro conta em detalhes como o grupo colocou comprimidos com uma substância química letal entre os remédios de uso regular do ex-presidente, para provocar um infarto fulminante. A equipe saiu do RS convencida de que valia a pena prosseguir com as investigações.
Em três anos de filmagens e pesquisa, a equipe do filme entrevistou o filho e a viúva de Jango, amigos, jornalistas, historiadores, políticos, e esteve na Argentina e no Uruguai, onde Jango viveu com a família em exílio. Lá, teve acesso a documentos da polícia uruguaia nunca revelados no Brasil. “A trama é toda costurada como em um filme de suspense. Mas investigamos a história a fundo. Queremos reabrir essa discussão”, diz Fontenelle.
O Documentário já foi premiado no Festival do Rio 2012 – Melhor Documentário Júri Popular; e na Mostra Tiradentes 2013, como Melhor Longa Metragem Júri Popular
A Ficha Técnica do filme é a seguinte: Direção PAULO HENRIQUE FONTENELLE; Produção Executiva TEREZA ALVAREZ; Roteiro e Montagem PAULO HENRIQUE FONTENELLE; Argumento PAULO MENDONÇA & ROBERTO FARIAS; Coprodução INSTITUTO JOÃO GOULART; Fotografia e Câmera (coletivo) MARCO MOREIRA, MARCELO CASACUBERTA, EDUARDO IZQUIERDO, PAULO VINÍCIUS SENISE, TOTA PAIVA, WLACYRA LISBOA, WALDIR DE PINA & BRUNO CORTE REAL; Coordenação de Pós-Produção VERUSCHKA G BÄUERLE; Edição de Som e Mixagem DENÍLSON CAMPOS; Trilha Sonora Original MARCOS NIMRICHTER; e Videografismo RENATO VILAROUCA & RICO VILAROUCA.
O documentário tem os depoimentos de: FLÁVIO TAVARES; CACÁ DIEGUES; ZELITO VIANA; LUIZ CARLOS BARRETO; CARLOS LYRA; JAIR KRISCHKE; GENERAL CARLOS GUEDES; JOÃO VICENTE GOULART; FERREIRA GULLAR; ALMINO AFONSO; CARLOS BASTOS; WALDIR PIRES; MANOEL LEÃES; CLÁUDIO BRAGA; CARLOS LACERDA; HÉLIO FERNANDES; DENISE GOULART; RAFAEL MICHELINI; GENETON MORAES NETO; MARIA THEREZA GOULART; MIRO TEIXEIRA; JÚLIO VIEIRA; LEONEL BRIZOLA; CARLOS HEITOR CONY; MIGUEL ARRAES; ROGER RODRIGUEZ; JARBAS MARQUES; MONIZ BANDEIRA; ENRIQUE FOCH DIAZ; MARIO NEIRA BARREIRO; MARIA DO ROSÁRIO; e PABLO ANDRÉS VASSEL.
Veja o treiler do filme