sábado, 5 de abril de 2014

Especialistas na Europa começam a analisar causa da morte de Jango

Por Wilson Lima - iG Brasília |
             

Amostras retiradas após a exumação de ex-presidente foram enviadas para Espanha e Portugal; resultado sai até novembro

A exumação do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares em 1964 e morto na Argentina em 1976, já entrou na fase de identificação das chamadas “causas mortis”. Desde 26 de fevereiro, conforme informações da Polícia Federal (PF), as amostras foram encaminhadas para os institutos de identificação que estão realizando as perícias e análises sobre os reais motivos do falecimento do ex-presidente.
50 anos do golpe: a ação militar que mergulhou o País em 21 anos de ditadura
Golpe de 1964 só deu certo porque militares tiveram apoio da sociedade civil

Divulgação
Expectativa da PF é que os laudos finais sobre a morte de Jango estejam prontos em novembro
Oficialmente, a PF não confirma os locais onde estão hoje as amostras, mas o iG apurou que elas foram encaminhadas à Universidade de Coimbra, em Portugal e à Universidade de Múrcia, na Espanha. Pelas informações obtidas pelo iG, pequenas amostras de ossadas foram encaminhadas à Espanha e as amostras de tecido mole (como pedaços de pele), a Portugal. A expectativa da Polícia Federal (PF) é que os laudos finais sobre a morte de Jango estejam prontos em novembro.
Oficialmente, Jango morreu na Argentina em 1976, vítima de um ataque cardíaco. Mas a família do ex-presidente suspeita que ele tenha sido envenenado em uma ação da Operação Condor, parceria entre os órgãos repressores do Brasil e da Argentina entre os anos de 1976 e 1980. Os exames que começaram a ser realizados vão indicar se o ex-presidente foi envenenado ou de fato morreu vítima de um ataque cardíaco.
Entrevista iG: 'Forças Armadas devem desculpas ao País', diz Franklin Martins
Esse processo de exumação de Jango começou em novembro do ano passado, quando peritos da PF e peritos estrangeiros transportaram o corpo do ex-presidente, enterrado em São Borja, cidade a 630 quilômetros de Porto Alegre, para a sede do Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília. O corpo de Jango ficou aproximadamente um mês na capital federal para coleta de amostras. Ele foi novamente enterrado no início de dezembro do ano passado, com honras de chefe de Estado.
Durante a fase em que o corpo ficou no INC, ocorreram exames antropológicos, que visavam obter características anatômicas que pudessem contribuir para a identificação do corpo. Nessa fase, também foram realizadas radiografias e tomografias do ex-presidente para ajudar na identificação dos seus restos mortais. Depois disso que as coletas de amostras foram encaminhadas aos institutos internacionais de identificação.
Essas amostras estão passando por exames toxicológicos que tentam encontrar restos de pelo menos 10 substancias nocivas, entre as quais clorofórmio e escopolamina. Essas substancias foram listadas como as mais usadas pelos regimes repressores na América Latina para envenenamento de pessoas contrárias ao regime militar. Nessa fase, também haverá a busca por medicamentos normalmente utilizados por Jango, como Isodril e Adelfan.
Durante a fase de coleta de amostras, os técnicos do INC ficaram surpresos com a conservação do corpo de Jango. Pessoas envolvidas no processo de exumação acreditam que isso poderá facilitar o trabalho, mas, mesmo assim, existe o risco de que os exames não sejam conclusivos. Isso porque, é muito provável que algumas substâncias nocivas supostamente utilizadas na morte de Jango não sejam encontradas. E mesmo que os exames indiquem vestígios de que Jango foi envenenado, os laudos também podem apontar alterações nas substâncias químicas no corpo apontando “falso exame positivo”.

Leia tudo sobre: jangoditadura militar