quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Assembléia do RS cria comissão para investigar morte de Jango

20/02/2008 - 13h45

da Folha Online
da Agência Folha, em Porto Alegre

A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou hoje o requerimento do deputado estadual Adroaldo Loureiro (PDT) solicitando a formação de uma subcomissão para investigar a morte do ex-presidente da República, João Goulart, o Jango (1918-1976).

De acordo com Adroaldo Loureiro, os parlamentares terão 120 dias para realizar o trabalho, buscando parceria com a Polícia Federal e o Congresso Nacional, onde senadores e deputados também estão retomando investigações sobre a morte de Jango.

Também integrarão a comissão os deputados estaduais Dionilson Marcon (PT), Paulo Brum (PSDB) e Marco Peixoto (PP).

A discussão sobre a circunstância da morte de Jango surgiu após entrevista do ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio Mario Neira Barreiro, 54, para a Folha. Na entrevista, ele disse que espionou Jango durante quatro anos e que o ex-presidente teria sido foi morto por envenenamento a pedido do governo brasileiro.

Jango morreu em 6 de dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente de ataque cardíaco. Ele governou o Brasil de 1961 até ser deposto por um golpe militar em 31 de março de 1964, quando foi para o exílio.

Segundo o ex-agente, Jango não morreu de ataque cardíaco, mas envenenado, após ter sido vigiado 24 horas por dia de 1973 a 1976.

Barreiro foi interrogado pela Polícia Federal sobre sua participação no suposto assassinato de Jango. Ele cumpre pena por tráfico de armas, falsidade ideológica e roubo a carro-forte.



sábado, 16 de fevereiro de 2008

Documento aponta que Jango era vigiado no exílio



Sábado, 16 de Fevereiro de 2008 | 07:03Hs

Redação

Documentos da polícia e do Exército uruguaio comprovam que o presidente João Goulart era vigiado no país vizinho durante o exílio. Segundo documento do Departamento de Inteligência do Exército, ao qual o jornal Folha de S. Paulo teve acesso, Jango aparece em uma lista com outros seis brasileiros, por ser considerado subversivo.
Após mencionar os nomes, consta no documento uma ordem escrita para que "se tenha conhecimento das atividades das pessoas mencionadas", sem mencionar a quem a determinação foi dada. O documento também relata uma reunião entre o presidente brasileiro, o então senador do Uruguai Zelmar Michelini e o ex-presidente da Bolívia Juan José Torres. Os três políticos teriam se reunido para conversar sobre asilados brasileiros, uruguaios e bolivianos que estavam em Buenos Aires.

Em outro documento, com data de 22 de fevereiro de 1974, do Departamento Nacional de Informação e Inteligência da polícia do Uruguai, uma relação de nomes de brasileiros vigiados, listando dados como telefones, número de documentos e atuação política.

Também apareciam na lista Dagoberto Rodrigues, que era amigo de Jango; o jornalista Edmundo Moniz de Aragão; Ivo de Magalhães; João Alonso Mintegui, adido comercial da Embaixada dôo Brasil no Uruguai durante o governo Jango; a jornalista Neiva Moreira; e o advogado e jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira.

Os documentos foram obtidos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil no ano passado, no Uruguai. Segundo o presidente da entidade, Jair Krischke, os dados obtidos no Uruguai reforçam as suspeitas de que havia interesse dos governos de ambos países em matar Jango.

Redação Terra

No silêncio da noite (Sebastião Nery)


RECIFE - De repente, no silêncio da noite, como na canção de Peninha cantada por Caetano, voando sobre o Atlântico, já próximo de Pernambuco, ele acordou com a voz do comandante, falando em espanhol:
- Atenção, por favor, senhores passageiros. Os fortes ventos que estamos enfrentando nos obrigam a fazer uma escala técnica em Recife, para recarregar o combustível. A demora no aeroporto será de aproximadamente 45 minutos. Obrigado.

Ele percebe o perigo e diz ao jornalista uruguaio Jorge
Otero, seu companheiro de viagem e vizinho de poltrona:
- Estou proibido de entrar em território brasileiro. Comprei esta passagem da Aerolineas Argentinas com o compromisso de não fazer uma só escala. Então, que o avião retorne à Europa.

E foram os dois à cabine falar com o comandante. Um comisssário de bordo tentou impedir. Mas, afinal, o comandante saiu e o ouviu:
- Sou o ex-presidente João Goulart, do Brasil. Estou como asilado na Argentina. (Era no Uruguai, mas vivia mais na Argentina.) Se o avião descer no Brasil, serei preso. O senhor deve devolver-me à Europa ou levar-me aonde quiser, a qualquer lugar, menos no Brasil.

Jango

O comandante estava "rígido e surpreso, com burocrática energia":
- É impossível atendê-lo. Os ventos frontais foram muito superiores aos previstos e por isso gastamos muito mais gasolina do que habitualmente. Quando o senhor comprou a passagem, tinha que saber das escalas assinaladas para uma emergência. Recife é o aeroporto mais perto.
- Mas, comandante, ninguém me avisou nada. Serei retirado do avião e preso. E o senhor será o responsável.
- Senhor, não entrará ninguém no avião. A esta hora só está acordado o responsável pela torre de controle, que vai chamar o pessoal do abastecimento. Não há ninguém no aeroporto.
- Desculpe, comandante. Mas meu nome está na lista de passageiros, que o senhor deverá entregar. Será só questão de minutos que venham do quartel e me levem preso. Contra mim, foi decretada uma ordem de prisão pela ditadura brasileira. Não posso entrar no Brasil, porque serei preso.
- Senhor, este é um avião argentino, sob meu comando. Não permitirei a ninguém que leve nenhum dos passageiros sob minha responsabilidade. Estamos em território argentino.
- Comandante, esta é uma aeronave civil. O senhor não vai poder fazer nada quando um punhado de soldados entrar aqui.

A responsabilidade por isso, que surpreenderá o mundo, será exclusivamente do senhor.
- Vou ver o que posso fazer, mas não alimentem muitas esperanças.

Recife, não

E voltou para a cabine. Jango e seu amigo, para os lugares deles. O jornalista uruguaio tentou aliviar a tensão de Jango:
- Presidente, o senhor me disse que em Madri comprou a passagem em nome de Belchior Marques. Talvez não se dêem conta de quem é.
- É possível, Jorge. Mas o chefe da guarnição militar de Recife foi promovido por mim. Tem que saber quem é o passageiro Belchior Marques

O tempo vai passando e nada. De repente, a voz do comandante:
- Atenção, por favor. Aqui fala o comandante. Quero informar que os cálculos do combustível que resta e a sensível melhora nos ventos tornam desnecessário descer em Recife. O vôo será sem escalas até Buenos Aires.

Jango, afinal, voltou a dormir. Era 12 de outubro de 76.

Juscelino

Esta história está no livro "João Goulart, recuerdos em su exílio uruguaio" (Ediciones la Plaza), de Jorge Otero, veterano jornalista de Montevidéu, ex-diretor do "El Dia". Encontraram-se em Paris e embarcado nas Aerolineas Argentinas direto para Buenos Aires.

Jango, proibido de entrar no Brasil e sem passaporte brasileiro, que a ditadura lhe tomara, viajava com passaporte do Paraguai. Hospedado no Hotel Claridge (Champs Élysées, 72), onde dias antes o encontrei, estava assustado com as macabras notícias da "Operação Condor" no Cone Sul (as ditaduras chilena, brasileira, argentina e uruguaia haviam planejado matar seus principais adversários) e sobretudo com o assassinato do general boliviano Juan José Torres, em Buenos Aires, e a misteriosa morte de Juscelino dois meses antes: 22 de agosto de 76.

Decidiu arrumar seus negócios no Uruguai e Argentina e voltar para morar em Paris e ficar mais perto dos filhos, que estudavam em Londres.

Geisel

Menos de dois meses depois, em 6 de dezembro de 76, Jango apareceu morto em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. No fim do ano passado, o uruguaio Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço secreto da ditadura uruguaia, preso por assalto no Rio Grande do Sul, revelou a João Vicente, filho de Jango, e agora a Simone Iglesias, da "Folha", que "durante quatro anos espionou Jango e ele morreu envenenado, por autorização do ex-presidente Geisel ao delegado Sergio Fleury, numa operação financiada pela CIA, com cápsulas envenenadas misturadas a remédios que tomava".

O corpo foi trazido para São Borja sob as ordens de militares brasileiros, com o caixão lacrado e impedido qualquer tipo de autópsia.


http://www.tribunadaimprensa.com.br/anteriores/ontem/coluna.asp?coluna=nery

Documento aponta que Jango era vigiado no exílio


Sábado, 16 de Fevereiro de 2008 | 07:03Hs

Redação

Documentos da polícia e do Exército uruguaio comprovam que o presidente João Goulart era vigiado no país vizinho durante o exílio. Segundo documento do Departamento de Inteligência do Exército, ao qual o jornal Folha de S. Paulo teve acesso, Jango aparece em uma lista com outros seis brasileiros, por ser considerado subversivo.
Após mencionar os nomes, consta no documento uma ordem escrita para que "se tenha conhecimento das atividades das pessoas mencionadas", sem mencionar a quem a determinação foi dada. O documento também relata uma reunião entre o presidente brasileiro, o então senador do Uruguai Zelmar Michelini e o ex-presidente da Bolívia Juan José Torres. Os três políticos teriam se reunido para conversar sobre asilados brasileiros, uruguaios e bolivianos que estavam em Buenos Aires.

Em outro documento, com data de 22 de fevereiro de 1974, do Departamento Nacional de Informação e Inteligência da polícia do Uruguai, uma relação de nomes de brasileiros vigiados, listando dados como telefones, número de documentos e atuação política.

Também apareciam na lista Dagoberto Rodrigues, que era amigo de Jango; o jornalista Edmundo Moniz de Aragão; Ivo de Magalhães; João Alonso Mintegui, adido comercial da Embaixada dôo Brasil no Uruguai durante o governo Jango; a jornalista Neiva Moreira; e o advogado e jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira.

Os documentos foram obtidos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil no ano passado, no Uruguai. Segundo o presidente da entidade, Jair Krischke, os dados obtidos no Uruguai reforçam as suspeitas de que havia interesse dos governos de ambos países em matar Jango.

Redação Terra