segunda-feira, 24 de junho de 2013

Documentário reabre discussão sobre a morte de João Goulart


O documentário “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle, que reabre a discussão sobre o suposto assassinato do ex-presidente João Goulart, em 1976, será apresentado na próxima sexta-feira (28/6) às 19 horas na sede da OAB-RJ, na  Avenida Marechal Câmara, 150 – no Centro do Rio de Janeiro -  com o apoio da Comissão Estadual da Verdade.
Em Brasília, com a presença da Ministra Maria do Rosário, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, o “Dossiê Jango” será apresentado no dia 01 de julho,  às 17 horas, no auditório Tancredo Neves do Ministério da Justiça – com apoio da Comissão de Anistia, Comissão de Mortos e desaparecidos Políticos, e também da Comissão Nacional da Verdade. Nas duas apresentações estarão presentes o diretor do filme, Paulo Henrique Fontenelle, e também o filho de Jango e presidente do Instituto João Goulart, João Vicente Goulart.
REFLEXÃO
O documentário  “Dossiê Jango” propõe uma reflexão sobre o período da ditadura militar brasileira a partir de um dos mais controversos fatos políticos da história do país: a morte do ex-presidente João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. Oficialmente, o ex-presidente morreu de infarto durante seu exílio político, quando planejava voltar ao Brasil.
Com argumento de Paulo Mendonça e Roberto Farias, o documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle não se limita a reconstruir esse capítulo da história; ele apresenta novos elementos e testemunhas-chave para reabrir a discussão em torno das circunstâncias da morte de Jango, cuja hipótese de assassinato vem sendo levantada desde a ditadura, mas sem nunca ter sido investigada.
 Em clima de thriller, o filme – produzido pelo Canal Brasil – revela documentos do serviço de
inteligência do Uruguai, do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), além de apresentar gravaçōões e depoimentos contundentes. Se sempre houve suspeitas em torno da causa mortis de Jango, o documentário agora junta outras peças desse nefasto quebra-cabeça.
As entrevistas e fatos apresentados reforçam uma certeza: a morte de Jango não foi esclarecida. A produção relembra outras interrogações que assolam a história do Brasil, como as também suspeitas mortes de Juscelino Kubitscheck e Carlos Lacerda, na mesma época e com um curto intervalo.
A história acerca da morte de Jango reúne outras mortes inexplicáveis, entre elas a do médico legista que fez o seu laudo e, mais impressionante, de Enrique Foch Diaz, empresário uruguaio e amigo do ex-presidente. Autor do livro “João Goulart: El Crimen Perfecto”, ele afirmava veementemente que Jango teria sido assassinado. A produção do filme teve acesso a uma gravação inédita, em fita cassete, na qual o uruguaio listava uma série de outras mortes correlacionadas à do ex-presidente brasileiro. Foch morreu, em circunstâncias suspeitas, semanas depois de fazer a gravação.
“Dossiê Jango” surgiu a partir do projeto idealizado por Roberto Farias, um filme de ficção
baseado na história. Roberto seguiu com seu projeto, que está em fase de pré-produção, e em paralelo ele e Paulo Mendonça decidiram realizar também um documentário. O ponto de partida de ambos os filmes foi a versão de Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência do Uruguai, que está preso no Rio Grande do Sul desde 2003. Ele é uma das pessoas que afirmam que João Goulart foi assassinado pela polícia brasileira, com a colaboração dos uruguaios, em um complô do qual diz ter feito parte. Segundo ele, o plano se chamava “Operação Escorpião”.
A versão de Barreiro veio à tona em 2008, quando ele concedeu uma entrevista para a TV
Senado e, logo depois, para o jornal “Folha de São Paulo”. Ele afirma que o delegado do Dops de São Paulo, Sérgio Fleury, deu a ordem para a execução de Jango, com autorização do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996).
O diretor Paulo Henrique Fontenelle, Roberto Farias e Paulo Mendonça estiveram durante dois dias com Barreiro, que detalhou minuciosamente a operação, citou nomes, datas e a sua rotina durante os três anos em que alega ter monitorado Jango. Na entrevista, Barreiro conta em detalhes como o grupo colocou comprimidos com uma substância química letal entre os remédios de uso regular do ex-presidente, para provocar um infarto fulminante. A equipe saiu do RS convencida de que valia a pena prosseguir com as investigações.
Em três anos de filmagens e pesquisa, a equipe do filme entrevistou o filho e a viúva de Jango, amigos, jornalistas, historiadores, políticos, e esteve na Argentina e no Uruguai, onde Jango viveu com a família em exílio. Lá, teve acesso a documentos da polícia uruguaia nunca revelados no Brasil. “A trama é toda costurada como em um filme de suspense. Mas investigamos a história a fundo. Queremos reabrir essa discussão”, diz Fontenelle.
O Documentário já foi premiado no  Festival do Rio 2012 – Melhor Documentário Júri Popular; e na Mostra Tiradentes 2013, como Melhor Longa Metragem Júri Popular
A Ficha Técnica do filme é a seguinte:  Direção PAULO HENRIQUE FONTENELLE; Produção Executiva TEREZA ALVAREZ; Roteiro e Montagem PAULO HENRIQUE FONTENELLE; Argumento PAULO MENDONÇA & ROBERTO FARIAS; Coprodução INSTITUTO JOÃO GOULART; Fotografia e Câmera (coletivo) MARCO MOREIRA, MARCELO CASACUBERTA, EDUARDO IZQUIERDO, PAULO VINÍCIUS SENISE, TOTA PAIVA, WLACYRA LISBOA, WALDIR DE PINA & BRUNO CORTE REAL; Coordenação de Pós-Produção VERUSCHKA G BÄUERLE; Edição de Som e Mixagem DENÍLSON CAMPOS; Trilha Sonora Original MARCOS NIMRICHTER; e Videografismo RENATO VILAROUCA & RICO VILAROUCA.
O documentário tem os depoimentos de:  FLÁVIO TAVARES; CACÁ DIEGUES; ZELITO VIANA; LUIZ CARLOS BARRETO; CARLOS LYRA; JAIR KRISCHKE; GENERAL CARLOS GUEDES; JOÃO VICENTE GOULART;  FERREIRA GULLAR; ALMINO AFONSO; CARLOS BASTOS; WALDIR PIRES; MANOEL LEÃES; CLÁUDIO BRAGA; CARLOS LACERDA; HÉLIO FERNANDES; DENISE GOULART; RAFAEL MICHELINI; GENETON MORAES NETO; MARIA THEREZA GOULART; MIRO TEIXEIRA; JÚLIO VIEIRA; LEONEL BRIZOLA; CARLOS HEITOR CONY; MIGUEL ARRAES; ROGER RODRIGUEZ; JARBAS MARQUES; MONIZ BANDEIRA; ENRIQUE FOCH DIAZ; MARIO NEIRA BARREIRO; MARIA DO ROSÁRIO; e PABLO ANDRÉS VASSEL.

Veja o treiler do filme

terça-feira, 18 de junho de 2013

João Vicente Goulart : “Estamos contando para as novas gerações”

Uma aula de história foi dada por quem viveu de perto o golpe militar e sofreu na própria família os reflexos da ditadura no Brasil. João Vicente Goulart tinha apenas sete anos quando acabou exilado ao ser deposto o pai, o ex-presidente João Belchior Marques Goulart, popularmente, Jango. Um pouco das entrelinhas que os ditadores não contaram foi apresentado por ele na abertura da exposição "Ditadura no Brasil 1964-1985" em Içara (SC) no início deste mês.

"A Comissão da verdade nada mais é do que a restauração da verdade. Não conseguimos sequer punir. Estamos contando para as novas gerações", aponta como interessado nas investigações. "Meu pai já dizia que o exílio é uma invenção do demônio, pois mata as pessoas enquanto se está vivo. O Jango era um brasileiro, presidente eleito, constitucional, derrubado por um golpe de estado e morava do outro lado da fronteira. Muitas pessoas que estavam no Uruguai o viam de longe, mas não se aproximavam com medo de serem presos na fronteira. Ou seja, de uma hora para outra você se transforma em um zumbi", relembra.

Apesar dos crimes não serem mais passíveis de punição no Brasil, há peças neste quebra-cabeças que poderão ser utilizadas em processos, por exemplo, na Argentina. Um dos pontos a serem esclarecidos é a própria morte de Jango. A exumação do corpo vai apontar se a causa foi natural ou se ocorreu envenenamento. Para isso participarão peritos da Polícia Federal do Brasil e de outros países já que a Operação Condor investigava o ex-presidente através de agentes também na Argentina e Uruguai.

Na avaliação de João Vicente, a inexistência de penas para os torturadores daquela época gera ainda consequentes reflexos no país. "A tortura continua. Não é só a perseguição dos políticos. Não foram punidos aqueles que torturaram e a polícia assimilou este tipo de trabalho, que é a discriminação do favelado", aponta. Além da caça dos militares, ele também exalta a perseguição da mídia. Em quase um ano, mais de 230 filmetes foram produzidos contra o governo de Jango.

“Usaram o poder da imprensa para derrubar a Constituição. Uma coisa é a liberdade. Outra é a libertinagem. Acho que não é preciso fazer regulamentação da lei. Mas temos que apressar a responsabilidade de quem mente”, sublinha. “Particularmente sou contra qualquer tipo de controle da mídia”, também garante. Ele ainda defende o Jornalismo como ferramenta para denunciar as irregularidades principalmente pela Internet. “No Regime Militar também existia corrupção, mas nunca aparecia”, coloca.

PRAÇAS E LOGRADOUROS - Em coletiva de imprensa na Casa da Cultura Padre Bernardo Junkes, João Vicente se manifestou também sobre o processo de mudança em locais públicos cujas nomenclaturas fazem referências a ditadores. Em Içara, a discussão ocorre quanto a Praça Castelo Branco. A proposta para ser homenageado então João Goulart foi acelerada pela visita do filho de Jango. "A homenagem em ruas, logradouros e praças deve ser de origem popular. Acho que cada mudança dessas deveria ocorrer um pequeno plebiscito para saber se isto é a vontade da população. O que penso é na importância da comunidade saber quem é Castelo Branco e quem é João Goulart", pontua