sábado, 16 de novembro de 2013

A morte de Jango (Carlos Heitor Cony)

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RIO DE JANEIRO - Em 2003, a editora Objetiva lançou o livro "O beijo da Morte", escrito por mim e Anna Lee, sobre as mortes de JK, João Goulart e Carlos Lacerda. Ganhamos o Prêmio Jabuti de Reportagem daquele ano, o livro ficou vários meses na lista dos mais vendidos e não sofreu nenhuma contestação até agora.

Não chegamos a nenhuma conclusão historicamente final, mas levantamos todas as hipóteses que cercaram o desaparecimento, em pouquíssimos meses, das nossas lideranças mais expressivas: Lacerda, pela direita, Jango, pela esquerda, e Juscelino, pelo centro.

Agora, o governo brasileiro solicitou a exumação do corpo de João Goulart e providenciou honras de chefe de Estado para o ex-presidente, morto no exílio. São muitas as interrogações que cercam a morte de Jango. Contrariando uma prática internacional, o governo argentino não providenciou a autópsia de um estrangeiro morto em seu território. Tampouco o governo brasileiro daquela época fez algo nesse sentido, pelo contrário, ordenou a todas as forças militares e policiais do Brasil que o prendessem tão logo chegasse ao território brasileiro.

Os jornais estão noticiando que Jango morreu de infarto, uma vez que era cardíaco e estava se tratando com médicos ingleses. Essa versão atual da mídia contraria o atestado de óbito do ex-presidente, emitido por um médico pediatra, chamado por dona Thereza Goulart. O atestado declara que a morte foi causada por uma "enfermedad".

Para escrevermos o livro, Anna Lee e eu tivemos financiamento da editora e viajamos repetidas vezes à Argentina, ao Uruguai e ao Rio Grande do Sul. Entrevistamos mais de 50 pessoas, inclusive o cidadão Mario Neira Barreiro, agente do serviço secreto uruguaio, e Enrique Foch Diaz, que não só confirmou o assassinato de Jango, mas escreveu um livro chamado "João Goulart - El Crimen Perfecto".

carlos heitor cony Carlos Heitor Cony é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances e diversas adaptações de clássicos.

Restos mortais de Jango são recebidos em Brasília com honras militares


14/11/2013 - 13h00
Da Agência Brasil
Brasília - Os restos mortais do ex-presidente da República João Goulart foram recebidos hoje (14) com honras militares, pela presidenta Dilma Rousseff. O corpo de Jango, como era conhecido, foi exumado ontem, em São Borja (RS), e será submetido à perícia da Polícia Federal, na capital. A exumação faz parte de uma investigação para esclarecer se a causa da morte de João Goulart foi mesmo um ataque cardíaco, conforme divulgaram na ocasião as autoridades do regime militar.
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor também acompanharam a cerimônia. Fernando Henrique Cardoso, que se recupera de uma diverticulite, não pôde participar da homenagem.
A presidenta Dilma Rousseff disse, em sua conta no Twitter, que a solenidade de honra ao ex-presidente João Goulart “é uma afirmação da democracia” no Brasil, que se consolida com este gesto histórico. “Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história. Como chefe de Estado da República Federativa do Brasil participo da recepção aos restos mortais de João Goulart, único presidente a morrer no exílio, em circunstâncias ainda a serem esclarecidas por exames periciais. Junto comigo estarão ex-presidentes da República, o presidente do Senado e políticos de todas as vertentes. Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória”.
Deposto pelo regime militar (1964-1985), Goulart morreu no exílio, no dia 6 de dezembro de 1976, na Argentina. O objetivo da exumação é descobrir se ele foi assassinado. Por imposição do regime militar brasileiro, Goulart foi sepultado em sua cidade natal, São Borja, no Rio Grande do Sul, sem passar por uma autópsia. Desde então, existe a suspeita de que a morte de Jango tenha sido articulada pelas ditaduras do Brasil, da Argentina e do Uruguai.
Após os exames, que serão feitos em Brasília e em laboratórios internacionais, os despojos voltarão para São Borja em 6 de dezembro, data de morte do ex-presidente. A perícia é coordenada pelo Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal e ocorrerá em duas etapas.
A primeira etapa é a análise antropológica, que detalhará informações sobre substâncias venenosas que eram usadas no Brasil, na Argentina e no Uruguai e podem ter causado o envenenamento do ex-presidente. Nesse momento, serão reunidos dados médicos e pessoais do ex-presidente. Além disso, será feita a análise do DNA. A segunda etapa da perícia será o exame toxicológico dos restos mortais de Goulart para confirmar se houve envenenamento.
Edição: Marcos Chagas
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Jango em Brasília

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Bela ideia, a da recepção conjunta, em Brasília, dos quatro ex-presidentes vivos e da presidente aos despojos de João Goulart, prevista para a manhã de hoje. Quaisquer que sejam os erros atribuíveis a João Goulart, com ou sem possível razão, entre eles não está ato algum de traição à democracia.

João Goulart foi parte ativa de um período dificílimo do Brasil, pela agitação política e social, pela ação de interesses estrangeiros, a exacerbação das ambições de poder, a conturbada descoberta de si mesma por toda a América Latina, tudo isso no quadro estrangulante da Guerra Fria. A violência valeu-se de todas as formas possíveis naqueles anos. João Goulart não a usou nunca. Lutou politicamente, mas não se vingou jamais, por nenhuma das tantas formas de vindita ao seu alcance, de algum dos autores da perseguição odienta de que foi alvo por inúmeros políticos, militares e meios de comunicação, desde quando ministro do Trabalho, no governo presidencialista de Getúlio, à sua derrubada e exílio.

Não é só ao presidente vítima de um feroz golpe militar que os cinco sucessores legítimos homenageiam. É também a um modo de ser na política, comprometido, no caso, por concessões e traços típicos da demagogia, mas preservado como convivência ou como enfrentamento sempre nos limites civilizados. Lembrança que Jango traz com muita utilidade quando já se prenunciam deslizes inquietantes nas atuais preliminares da eleição e, sobretudo, da possibilidade de reeleição.

Jango Goulart não volta a Brasília por nenhum desses componentes institucionais, políticos e pessoais do seu percurso na vida nacional. Na melhor hipótese, o que o traz obterá resposta apenas parcial a uma incógnita maior. Se provocada, sua morte não seria desvinculada de objetivos criminosos e políticos que não se limitavam à eliminação de uma só pessoa.

Por isso, tão ou mais importante do modo como se deu a morte de João Goulart, por enfarte natural ou provocado, ou nem exatamente por enfarte, é o fato de ser parte de uma sucessão coerente, lógica e quase simultânea de ocorrências sem explicação satisfatória: as mortes, e suas circunstâncias, também de Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. As três em apenas nove meses. As três dos políticos capazes de maior mobilização em todo o país. Os três entendidos entre si desde formada a Frente Ampla que abalou a ditadura e por ela foi silenciada. Os três capazes de levantar apoios externos quando a ditadura se tornava incômoda aos Estados Unidos e sob pressão atritosa do governo americano.

A ditadura foi um regime assassino e torturador montado por militares com o apoio da maior parte da camada economicamente privilegiada do país. Não há motivo algum para dúvida.

Daniel Marenco/Folhapress Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

Jango em Brasília



Bela ideia, a da recepção conjunta, em Brasília, dos quatro ex-presidentes vivos e da presidente aos despojos de João Goulart, prevista para a manhã de hoje. Quaisquer que sejam os erros atribuíveis a João Goulart, com ou sem possível razão, entre eles não está ato algum de traição à democracia.

Restos mortais de Jango são levados de São Borja (RS) a Brasília
Ouvir o textoJoão Goulart foi parte ativa de um período dificílimo do Brasil, pela agitação política e social, pela ação de interesses estrangeiros, a exacerbação das ambições de poder, a conturbada descoberta de si mesma por toda a América Latina, tudo isso no quadro estrangulante da Guerra Fria. A violência valeu-se de todas as formas possíveis naqueles anos. João Goulart não a usou nunca. Lutou politicamente, mas não se vingou jamais, por nenhuma das tantas formas de vindita ao seu alcance, de algum dos autores da perseguição odienta de que foi alvo por inúmeros políticos, militares e meios de comunicação, desde quando ministro do Trabalho, no governo presidencialista de Getúlio, à sua derrubada e exílio.

Não é só ao presidente vítima de um feroz golpe militar que os cinco sucessores legítimos homenageiam. É também a um modo de ser na política, comprometido, no caso, por concessões e traços típicos da demagogia, mas preservado como convivência ou como enfrentamento sempre nos limites civilizados. Lembrança que Jango traz com muita utilidade quando já se prenunciam deslizes inquietantes nas atuais preliminares da eleição e, sobretudo, da possibilidade de reeleição.

Jango Goulart não volta a Brasília por nenhum desses componentes institucionais, políticos e pessoais do seu percurso na vida nacional. Na melhor hipótese, o que o traz obterá resposta apenas parcial a uma incógnita maior. Se provocada, sua morte não seria desvinculada de objetivos criminosos e políticos que não se limitavam à eliminação de uma só pessoa.

Por isso, tão ou mais importante do modo como se deu a morte de João Goulart, por enfarte natural ou provocado, ou nem exatamente por enfarte, é o fato de ser parte de uma sucessão coerente, lógica e quase simultânea de ocorrências sem explicação satisfatória: as mortes, e suas circunstâncias, também de Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. As três em apenas nove meses. As três dos políticos capazes de maior mobilização em todo o país. Os três entendidos entre si desde formada a Frente Ampla que abalou a ditadura e por ela foi silenciada. Os três capazes de levantar apoios externos quando a ditadura se tornava incômoda aos Estados Unidos e sob pressão atritosa do governo americano.

A ditadura foi um regime assassino e torturador montado por militares com o apoio da maior parte da camada economicamente privilegiada do país. Não há motivo algum para dúvida.

Daniel Marenco/Folhapress Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Exumação do corpo de Jango começa hoje

Comissão da Verdade investiga se ex-presidente morreu de ataque cardíaco ou envenenado
Filippo Cecilio, do R7
Túmulo do ex-presidente já está preparado para receber peritos Tarlis Schneider/Estadão Conteúdo
A exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart começa nesta quarta-feira (13), em São Borja (RS). A exumação do corpo foi solicitada pela CNV (Comissão Nacional da Verdade), que investiga crimes ocorridos durante a ditadura militar.
A Comissão quer esclarecer se a morte de Jango, que ocorreu em dezembro de 1976, há 37 anos, foi causada por ataque cardíaco ou envenenamento, como suspeita a família.
Após o início da exumação, os restos mortais do ex-presidente serão enviados na próxima quinta-feira (14) para Brasília e analisados pelo Instituto de Perícia da PF (Polícia Federal). Durante a perícia, serão realizados exames toxicológicos que vão determinar se há substâncias venenosas nos restos mortais de Jango.
Leia mais notícias no R7
O corpo do ex-presidente fica em Brasília até o dia 6 de dezembro — data da morte de Jango —, quando será devolvido ao seu túmulo, no cemitério Jardim da Paz.
A CNV, a SDH (Secretaria de Direitos Humanos) da Presidência da República, a PF e para a família Goulart, não há dúvida que o presidente João Goulart foi monitorado pela Operação Condor, um plano de apoio mútuo entre as ditaduras do cone sul, usado para eliminar adversários políticos destes regimes.
Há a suspeita de que Jango pode ter sido alvo de um plano de assassinato, como relatou o ex-agente uruguaio Mario Neira Barreira e como sugerem documentos relativos ao monitoramento, que alcançou também a família do presidente.
São Borja é conhecida como a terra dos presidentes. Nasceram por lá Getúlio Vargas e João Goulart. E também está enterrado na cidade, além dos dois citado, Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro e líder da campanha da legalidade, que permitiu que Jango assumisse o poder em 1961 após a renúncia de Jânio Quadros.
Em audiência pública que discutiu a exumação dos restos mortais do ex-presidente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse na última terça-feira (12) que a elucidação da causa da morte de Jango “esclarecer lacunas do passado”.
— A busca da verdade é fundamental em qualquer democracia, São fatos que precisam ser esclarecidos. No estado democrático, é dever ter transparência total em relação ao seu presente e em relação ao seu passado. Os fatos obscuros que exigem clareamento desse período triste da história brasileira, que foi a ditadura militar, precisam ser colocados à luz.
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Exumação dos restos mortais de Jango lota hotéis de São Borja (RS)

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REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO
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A cidade de São Borja (RS), na fronteira com a Argentina, revive dias de agitação com a exumação dos restos mortais do presidente João Goulart (1919-1976), o Jango, deposto pelo golpe militar de 1964.
Efervescência que, segundo a prefeitura, não era vista desde o enterro do governador Leonel Brizola (1922-2004), cunhado de Jango. Ambos foram enterrados no jazigo da família Goulart.
Também em São Borja está enterrado o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), o que rendeu à cidade o apelido de "terra dos presidentes".
A abertura do jazigo de Jango está marcada para as 7h de hoje. Os restos mortais serão inseridos em uma urna e deixarão o cemitério de carro até o aeródromo local. De lá, seguirão de helicóptero até a base militar em Santa Maria, também no RS.
A expectativa é que a população possa prestar homenagens a Jango durante o trajeto de carro em São Borja.
Amanhã, a urna será levada em avião da FAB de Santa Maria a Brasília, onde serão feitos os primeiros exames.

Editoria de arte/Folhapress
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Ontem, autoridades federais, peritos e jornalistas movimentaram o centro e o entorno do cemitério. Hotéis estavam lotados, e moradores da região chegavam para acompanhar a exumação.
Gerente do hotel Almanara, no centro, Joice Antunes disse que nesta semana foi preciso organizar uma fila de espera para reserva de leitos.
Uma tenda foi montada no local da sepultura. Somente familiares, autoridades e peritos poderão entrar no cemitério durante a exumação.
Ontem à noite houve audiência pública em São Borja com presença dos ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça).
Cardozo referiu-se ao processo como "momento histórico" e disse que os brasileiros não tiveram acesso a "muita coisa" que ocorreu na ditadura. Rosário negou viés político e disse se tratar de questão "pedagógica" para o país dizer que "assumiu caminho definitivo para a democracia".
Moradores temiam que os restos mortais não voltassem mais para o município. A questão foi resolvida após o governo federal se comprometer a devolvê-los no dia 6 de dezembro, quando a morte completa 37 anos --compromisso nesse sentido foi assinado ontem na audiência.
A causa oficial da morte de Jango foi infarto, mas a família e o governo suspeitam de assassinato por envenenamento por forças da ditadura militar (1964-1985). Não houve autópsia na época.
Segundo o governo federal, os exames vão buscar traços de remédios usados por Jango --um ex-agente da repressão uruguaia já disse ter participado de ação para matá-lo por envenenamento.
Suspeita-se que Jango possa ter sido morto em uma ação da Operação Condor, a aliança entre ditaduras do Cone Sul para prender e matar opositores no exterior.

'É momento histórico para as vítimas da ditadura', diz neto de Jango

Exumação de restos mortais do ex-presidente será na quarta, em São Borja.
Familiares estão na cidade para acompanhar trabalho dos peritos.

Márcio Luiz Do G1 RS, em São Borja
Neto Exumação Jango (Foto: Marcio Luiz/G1)João Marcelo está na cidade para acompanhar a exumação do avô (Foto: Marcio Luiz/G1)

Familiares de João Goulart já estão no município de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, para acompanhar a exumação do ex-presidente. Na manhã desta terça-feira (12), João Marcelo Goulart, um dos netos de Jango, afirmou que a análise dos restos mortais do avô trata-se de um "momento histórico" para o país. O processo está marcado para a manhã de quarta-feira (13). O cemitério e o jazigo da família estão isolados.
"É um momento histórico não só para a família de Jango, mas para o país e para todos as famílias de mortos, desaparecidos, torturados e exilados na ditatura militar. É um momento histórico para todas as vítimas da ditadura", disse ao G1 João Marcelo, 24 anos, filho de João Vicente Goulart.

A exumação tem como finalidade esclarecer as causas da morte de Jango durante o exílio na Argentina, em 1976. Segundo a versão oficial, o presidente deposto pelo golpe militar em 1964 foi vítima de um ataque cardíaco, mas existe a suspeita de que ele possa ter sido assassinado por agentes da repressão durante a Operação Condor, como foi batizada a aliança das ditaturas do Cone Sul para espionar, prender e matar opositores dos regimes.

Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado (Foto: Márcio Luiz/G1)Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado
(Foto: Márcio Luiz/G1)
Os restos mortais de Jango serão retirados do jazigo da família Goulart no cemitério Jardim da Paz. Depois, serão levados para análise em Brasília, onde o ex-presidente será recebido com honras de chefe de Estado, segundo informou a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. João Marcelo destacou que esse é um reconhecimento que seu avô não teve direito em vida.

"Isso é muito importante para a nossa família. Depois de 37 anos de sua morte, Jango retorna a Brasília como chefe de Estado, com honras que ele nunca teve. Tudo isso a gente acredita que é necessário para o resgate da memória do país, da democracia", declarou o neto de Jango.

A exumação dos restos mortais do ex-presidente está marcada para começar às 7h desta quinta-feira (13) e não tem hora para acabar. Participam do processo peritos criminalistas da Polícia Federal (PF), duas especialistas argentinas, um uruguaio e um cubano, que participou da exumação do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Ele foi convidado pela família. O resultado da análise não tem data para ser divulgado.

Nesta tarde, devem chegar à São Borja mais familiares de Jango, além da ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entre outras autoridades. Uma audiência pública para explicar à população o processo de exumação do ex-presidente está marcada para as 18h.

Cemitério e jazigo foram isolados
Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)
O cemitério da cidade amanheceu isolado e com segurança reforçada. Peritos chegaram ao local às 10h para preparar a operação. O jazigo da família foi coberto por lonas e cercado por uma estrutura metálica para o trabalho dos peritos. Para a retirada dos restos mortais, na manhã de quarta-feira, haverá três tipos de acesso: um para os peritos, que ficarão em cima do túmulo. O segundo será para os familiares, que poderão acompanhar todo o processo. Autoridades também poderão observar a operação. A imprensa não foi liberada para entrar no cemitério.
"Estamos aqui depois de longos seis meses de trabalho. Ele não se iniciou hoje, mas também não acaba amanhã. Vai demorar um certo tempo porque serão feitas análises em laboratórios e também no exterior", explicou ao G1 Amaury de Souza Júnior, chefe dos peritos que está coordenando a exumação. O perito explica que não há prazo para a conclusão da análise e ressalta que o resultado pode ser inconclusivo.
Os peritos ainda não sabem em que condições estarão os restos mortais e o caixão de Jango. Se estiver em bom estado, a ossada será colocada em uma urna comprada especialmente para a operação. Se houver alguma deterioração, serão usadas caixas menores. Os restos mortais sairão do cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros até o Aeródromo de São Borja.
De lá, os restos mortais seguem em um helicóptero da FAB até a Base Aérea de Santa Maria. Em seguida, o material vai para Brasília, onde é esperado até as 10h de quinta-feira. De acordo com a assessoria da assessoria da presidência, o corpo de Jango será recebido com honras de chefe de Estado. Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso estão entre os convidados para a solenidade.
A força-tarefa para o procedimento de exumação envolve a SDH/PR, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS), o Departamento da Polícia Federal (DPF), além de contar com a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e peritos internacionais da Argentina e Uruguai, sendo que há possibilidade de técnicos cubanos se integrarem aos trabalhos.
A Comissão Nacional da Verdade e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul decidiram exumar o corpo do ex-presidente João Goulart em maio deste ano, a pedido da família, que acredita que ele possa ter sido envenenado. Morto no exílio na Argentina em 1976, o laudo oficial afirma que ele sofreu um ataque cardíaco. Entretanto, há suspeitas de que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Para a família de Jango, ele teria sido assassinato em uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.
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Familiares estão na cidade para acompanhar trabalho dos peritos.

Márcio Luiz Do G1 RS, em São Borja
Neto Exumação Jango (Foto: Marcio Luiz/G1)João Marcelo está na cidade para acompanhar a exumação do avô (Foto: Marcio Luiz/G1)

Familiares de João Goulart já estão no município de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, para acompanhar a exumação do ex-presidente. Na manhã desta terça-feira (12), João Marcelo Goulart, um dos netos de Jango, afirmou que a análise dos restos mortais do avô trata-se de um "momento histórico" para o país. O processo está marcado para a manhã de quarta-feira (13). O cemitério e o jazigo da família estão isolados.
"É um momento histórico não só para a família de Jango, mas para o país e para todos as famílias de mortos, desaparecidos, torturados e exilados na ditatura militar. É um momento histórico para todas as vítimas da ditadura", disse ao G1 João Marcelo, 24 anos, filho de João Vicente Goulart.

A exumação tem como finalidade esclarecer as causas da morte de Jango durante o exílio na Argentina, em 1976. Segundo a versão oficial, o presidente deposto pelo golpe militar em 1964 foi vítima de um ataque cardíaco, mas existe a suspeita de que ele possa ter sido assassinado por agentes da repressão durante a Operação Condor, como foi batizada a aliança das ditaturas do Cone Sul para espionar, prender e matar opositores dos regimes.

Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado (Foto: Márcio Luiz/G1)Jazigo da família foi coberto por lonas e isolado
(Foto: Márcio Luiz/G1)
Os restos mortais de Jango serão retirados do jazigo da família Goulart no cemitério Jardim da Paz. Depois, serão levados para análise em Brasília, onde o ex-presidente será recebido com honras de chefe de Estado, segundo informou a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. João Marcelo destacou que esse é um reconhecimento que seu avô não teve direito em vida.

"Isso é muito importante para a nossa família. Depois de 37 anos de sua morte, Jango retorna a Brasília como chefe de Estado, com honras que ele nunca teve. Tudo isso a gente acredita que é necessário para o resgate da memória do país, da democracia", declarou o neto de Jango.

A exumação dos restos mortais do ex-presidente está marcada para começar às 7h desta quinta-feira (13) e não tem hora para acabar. Participam do processo peritos criminalistas da Polícia Federal (PF), duas especialistas argentinas, um uruguaio e um cubano, que participou da exumação do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Ele foi convidado pela família. O resultado da análise não tem data para ser divulgado.

Nesta tarde, devem chegar à São Borja mais familiares de Jango, além da ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entre outras autoridades. Uma audiência pública para explicar à população o processo de exumação do ex-presidente está marcada para as 18h.

Cemitério e jazigo foram isolados
Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)Segurança em cemitério foi reforçada para exumação de João Goulart (Foto: Márcio Luiz/G1)
O cemitério da cidade amanheceu isolado e com segurança reforçada. Peritos chegaram ao local às 10h para preparar a operação. O jazigo da família foi coberto por lonas e cercado por uma estrutura metálica para o trabalho dos peritos. Para a retirada dos restos mortais, na manhã de quarta-feira, haverá três tipos de acesso: um para os peritos, que ficarão em cima do túmulo. O segundo será para os familiares, que poderão acompanhar todo o processo. Autoridades também poderão observar a operação. A imprensa não foi liberada para entrar no cemitério.
"Estamos aqui depois de longos seis meses de trabalho. Ele não se iniciou hoje, mas também não acaba amanhã. Vai demorar um certo tempo porque serão feitas análises em laboratórios e também no exterior", explicou ao G1 Amaury de Souza Júnior, chefe dos peritos que está coordenando a exumação. O perito explica que não há prazo para a conclusão da análise e ressalta que o resultado pode ser inconclusivo.
Os peritos ainda não sabem em que condições estarão os restos mortais e o caixão de Jango. Se estiver em bom estado, a ossada será colocada em uma urna comprada especialmente para a operação. Se houver alguma deterioração, serão usadas caixas menores. Os restos mortais sairão do cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros até o Aeródromo de São Borja.
De lá, os restos mortais seguem em um helicóptero da FAB até a Base Aérea de Santa Maria. Em seguida, o material vai para Brasília, onde é esperado até as 10h de quinta-feira. De acordo com a assessoria da assessoria da presidência, o corpo de Jango será recebido com honras de chefe de Estado. Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso estão entre os convidados para a solenidade.
A força-tarefa para o procedimento de exumação envolve a SDH/PR, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS), o Departamento da Polícia Federal (DPF), além de contar com a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e peritos internacionais da Argentina e Uruguai, sendo que há possibilidade de técnicos cubanos se integrarem aos trabalhos.
A Comissão Nacional da Verdade e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul decidiram exumar o corpo do ex-presidente João Goulart em maio deste ano, a pedido da família, que acredita que ele possa ter sido envenenado. Morto no exílio na Argentina em 1976, o laudo oficial afirma que ele sofreu um ataque cardíaco. Entretanto, há suspeitas de que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Para a família de Jango, ele teria sido assassinato em uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.
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