A morte de Jango (Carlos Heitor Cony)
RIO DE JANEIRO - Em 2003, a editora Objetiva lançou o livro "O beijo da Morte", escrito por mim e Anna Lee, sobre as mortes de JK, João Goulart e Carlos Lacerda. Ganhamos o Prêmio Jabuti de Reportagem daquele ano, o livro ficou vários meses na lista dos mais vendidos e não sofreu nenhuma contestação até agora.
Não chegamos a nenhuma conclusão historicamente final, mas levantamos todas as hipóteses que cercaram o desaparecimento, em pouquíssimos meses, das nossas lideranças mais expressivas: Lacerda, pela direita, Jango, pela esquerda, e Juscelino, pelo centro.
Agora, o governo brasileiro solicitou a exumação do corpo de João Goulart e providenciou honras de chefe de Estado para o ex-presidente, morto no exílio. São muitas as interrogações que cercam a morte de Jango. Contrariando uma prática internacional, o governo argentino não providenciou a autópsia de um estrangeiro morto em seu território. Tampouco o governo brasileiro daquela época fez algo nesse sentido, pelo contrário, ordenou a todas as forças militares e policiais do Brasil que o prendessem tão logo chegasse ao território brasileiro.
Os jornais estão noticiando que Jango morreu de infarto, uma vez que era cardíaco e estava se tratando com médicos ingleses. Essa versão atual da mídia contraria o atestado de óbito do ex-presidente, emitido por um médico pediatra, chamado por dona Thereza Goulart. O atestado declara que a morte foi causada por uma "enfermedad".
Para escrevermos o livro, Anna Lee e eu tivemos financiamento da editora e viajamos repetidas vezes à Argentina, ao Uruguai e ao Rio Grande do Sul. Entrevistamos mais de 50 pessoas, inclusive o cidadão Mario Neira Barreiro, agente do serviço secreto uruguaio, e Enrique Foch Diaz, que não só confirmou o assassinato de Jango, mas escreveu um livro chamado "João Goulart - El Crimen Perfecto".